O sapato descolou. Se abriu em pedaços. Pensou em desmarcar o encontro casual. Avaliou. Entre um pensamento e outro o telefone toca. “Oi, já estou aqui”. Pronto. Parece que tudo se tornaria grande equívoco.
Após uma semana atípica, ela recebe uma mensagem inesperada. Algo profissional. Um aviso ou convite. Deduz que nunca saberá. Não deu muita atenção ao que no futuro se tornaria uma proposta de trabalho. Talvez para celebrar (ou agradecer) ela fez um convite para um café. Algo despretencioso, ingênuo e profudamente verdadeiro. Sem nenhum tipo de intenção subliminar. Quando desceu ao seu encontro, foi tomada por um pequeno choque e pensamentos que a envergonharam de imediato. Tentou passar naturalidade, cordialidade e sorriu como quem não vê um amigo há muito tempo. Começou a falar sem freio certamente para esconder seus pensamentos. Não sabia porque, mas aquele homem a fazia ebulir por dentro.
Falavam sem parar, uma metralhadora de afinidades, inteligência, bom senso... ela ouvia cada palavra proferida de sua boca, encantada... sentia-se a vontade, acompanhada. Não falava sozinha. Alguém escutava-a e sorria para ela. Um sorriso prodigioso, feliz, sem dissimulações. Tinham uma interação singular. Perdeu-se em um mundo paralelo. Enquanto ele falava, sentia a presença de anjos em torno si. Em meio aos livros da Cultura, pensava orgulhosa: “Como foi bom trazê-lo em um dos meus lugares mágicos. Em meio aos livros, a pessoa certa no lugar certo”. Questionava várias vezes se ele a via sorrir pelos olhos, seu corpo era todo satisfação.
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