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segunda-feira, 8 de junho de 2009

O país de onde venho...


Nao preciso levantar bandeiras, decoradas de discursos vazios... nem impor a minha opiniao, já que para isso os fatos nao nos deixam mentir e "contra fatos nao há argumentos". Mas lamento voltar aos mesmos apelos de anos e verificar que nada foi feito para mudar a situaçao de crianças e adolescentes do país de onde venho.

Esse país que se orgulha de um monte de coisas... a conquista mais recente é sediar a Copa de 2014. Nada mais justo para o país do futebol, nada mais coerente. Mas me pergunto, no Mundial, onde vao esconder nossas vergonhas? Como uma moça educada que sou, nao posso deixar de pontuar que será feio para o país mostrar suas crianças e a situaçao nas quais elas vivem: ainda fora da escola, entupindo as sinaleiras, as pedreiras e os sisais, sendo usadas como fetiches sexuais de mentes doentias...

É um discurso cansativo, uma retórica esgotada mas apesar disso tudo, os problemas emergem de vez em vez. Nao quero que isso seja um desabafo, nem um discurso inflamado de palanque...mas incomoda perceber que o país de onde venho nao avança nessas questoes que já estao estragadas como um feijao azedo que ficou muito tempo fora da geladeira. Aquilo que provoca essa virginiana fria e insensível é a repetiçao de imagens como essa. Como se o problema de fato fosse crônico e que nao se pode fazer mais nada. Como um paciente em fase terminal esperando a extrema-unçao. E isso que é desolador. Essa sensaçao de impotência aflinge, angustia, mata as poucos.

Nesse momento, ser mulher é algo insulportável, já que parece que temos a pré-disposiçao de acumular todos os sentimentos do mundo que nos perfuram a alma, sofrer mais que qualquer outro gênero. Como ficar imparcial diante de uma realidade grotesca que afirma a morte, abandono, abuso sexual, exploraçao de crianças a cada cinco minutos? É uma estatística apavorante, mas parece que ela nao é suficientemente necessária para comover quem de fato interessa ser comovido. Afinal de contas eles têm problemas demais com as viagens ä Europa pagas pelo dinheiro público, os desvios de verba e em aumentarem seus salários sem nenhum pudor, sem nenhuma vergonha, sem nenhuma consciência crista. Acho que vale aqui o apelo religioso, já que algo mais sano nao surte efeito.

O país de onde venho, tem uma legislaçao avançada quando o assunto é criança e adolescente, referência internacional na teoria das leis. Uma teoria de quase 20 anos que teima em nao sair do papel, apesar da situaçao gritante em que se vive. Da tragetória de crianças e adolescentes que tem, em geral, profundo histórico de maus tratos, violências em geral que começam dentro de casa, e quando no contato com o mundo exterior, sao vítimas de todo tipo de exploraçao sexual, moral, com severas sequelas psicológicas, fisicas e emocionais. Mas mesmo diante dessa gritante situaçao, insistem em reduzir a maioridade penal, resolver o assunto ás avessas, tentando justificar os fins pelos meios.

Talvez muita coisa esteja sendo feita para mudar essa situaçao e eu ainda nao consiga ver ou colocar em níveis de proporcionalidade, a realidade e as políticas públicas de mudança dessa mesma realidade. Alguma coisa falta, alguma está deixando de ser feita. E a resposta para essas questoes, sinceramente eu nao as tenho. Falando sério, esse assunto me cansa, me dá dores na nuca e percebo a minha impotência diante das dores do mundo e, em especial, do país de onde venho.

*Foto: REUTERS - Rupak De Chowdhuri

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