Dia 8 - cheia de quereres...

...Nao me olhe depressa demais... se fizer isso, nao vai conseguir ver a profundidade de minha existencia insistente e solitária, nao vai ver o quanto minhas decisoes guerreiras demonstram uma fragilidade de uma mulher indefesa. Ser forte o tempo todo cansa, ser uma grande mulher cansa, me cansa os estereotipos... e eu nesse momento me sinto com um peso muito arduo nas costas. 

Quero aproveitar os primeiros minutos desse Dia 8, para dizer que essa revoluçao feminina as vezes me faz exaurir... o discurso massante da guerra diária, de matar um leao por dia, de engolir um sapo minuto por minuto no trabalho, na escola, na universidade, na familia, na rua, no transito, na vida... nao que nao seja capaz de ser a mulher-maravilha, mas ser heroína nem sempre é fácil, encarnar a fortaleza, erguer as espadas e liderar uma revoluçao todo tempo...uffa... só de pensar me consome. Nao quero ser condenada por ser humana, de carne, osso e coraçao e com isso carregar todas as responsabilidade dessa condiçao. 

...Hoje quero dizer que estou abrindo mao de carregar algumas cruzes, de receber as pedradas de Maria Madalena e de sofrer por nao ser um fruto fiel da revoluçao feminista. Quero continuar a ser feminina, a ter meu cheiro de mulher, devotar meus homens, sofrer minhas desilusoes, ser frágil como uma flor. e quebrar como um cristal... quero falar baixo e delicadamente, frequentar os colégios de freiras francesas e aprender a ter bons modos, me portar bem a mesa... quero nao ter que dividir a conta ao menos uma vez no mês, fazer a comidinha do marido e nao me sentir culpada por cuidar daquele que gosto. 

Quero costurar sem espetar o dedo e cozinhar sem queimar a frigideira... quero raciocinar menos e sentir mais... deixar um homem abrir o pote de palmito, deixar ele colocar o gás e desentupir a pia e de quebra, consertar o interruptor quebrado e trocar a lâmpada queimada. Só por hoje quero nao ser da geraçao "nao dependa de homem" e quero receber flores e cestas de café da manha... dormir e acordar com um beijo protetor, ser abraçada por braços de guerreiro... quero sentir a singeleza do ser mulher, a delicadeza de ser feminina. 

Hoje, no dia 8 de março - quero ser mulher de casa e nao de fábrica, quero ser dondoca, tirar as calças e usar saias, colocar uma flor nos cabelos e andar de maos dadas com alguém em uma caminhada romântica e desprentenciosa. Hoje nao quero ser revolucionária, nao quero ter uma carreira para construir, quero apenas respeitar meus quereres por ao menos cinco minutos desse dia 8 de março.

(...as minhas amigas que se culpam por serem tao mulherzinhas, sejam felizes e basta!)