Carnaval. A cidade incediada de alegria e esquecimentos. Esquecer da conta de luz, do telefone, do emprestimo no banco, do estresse rotineiro do trabalho... esquecer que você é ninguem e o mundo todo ao mesmo tempo. Milhões de pessoas vem como uma bomba atômica explodindo dentro do mais intimo pertence... Pertencer? Palavrinha que incomoda no carnaval, um lugar onde a regra é ninguém ser de ninguém e todo mundo ser de todo mundo.
Na avenida, as máscaras escondem as trabalhadoras incansáveis, a dona de casa entendiada dos afazeres domesticos, a namorada infeliz e acomodada, a mãe incansável protetora de seus filhotes,a amante sozinha em datas especiais, a maquiagem borrada pelo chôro dos ontens... naquele meio louco, cheio e contraditório, o que se quer mais é beijar na boca e ser feliz daqui para frente, para sempre... como canta a mãe desvairadamente feliz, ou quem sabe achar o Sansão, forte, alto, sensível e viril.
Mas no meio da multidão existe um minuto de consciência. Aquela consciência melancólica, quando você passa a ver tudo em câmera lenta e, misturados àqueles sorrisos quase que paralisados, você vê sua vida passar e logo pensa: por que o carnaval não continua ao longo do ano, por que todos os dias não são dias de carnaval... por que a colombina apaixonada deve chorar lágrimas de sangue por seu pierrô insensível, grosseiro, violento e egoísta... e você vê um mundo paralelo ao carnaval e que na verdade é a vida real, é o seu mundo, sem máscaras e confetes... e o pior: sem o pierrô apaixonado.
E o sorriso momesco quase se desfaz, quando, felizmente, alguém tropeça em você, te puxa pela mão, te desperta, tenta te beijar e te contamina com a alegria tão peculiar do carnaval. A reação automática é seguir a euforia do momento, pois é carnaval e o momento é de sorrir sorrisos longos, cantar até perder a voz e dançar correndo o risco de torcer um dos tornozelos (ou os dois)... é hora de colocar as melancolias embaixo do tapete por algumas horas, rezando para que o dia cinza da quarta-feira não chegue com tanta pressa... é hora de se deixar sumir na multidão alucinadamente feliz e se tornar multidão. É carnaval, época de pegar sua melhor fantasia e dissimular... afinal de contas, fingir ser o que não é faz parte dessa loucura, dessa folia...
(...a multidao me inspirou... a multidao ensandecida pela adrenalina do Carnaval)
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