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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Oh Menina Triste...


Observava a garota, no canto da sala, encolhida e sentindo pena de si mesma. Percebi que tentava sorrir, mas seu sorriso só fazia aumentar suas dores de cabeça. Nos últimos dias sentia e ressentia dores na nuca e na cabeça. Aquela sensação de impotência era embaraçante. Não tinha respostas e pensava constantemente em um carro passando por cima de seu corpo e lhe poupando de mais sofrimentos. Como uma louca, completamente esquizofrênica, conversava com amigos imaginários. Conversava com eles regularmente e sentia a necessidade de vê-los como seres reais. Bem, era de sua realidade.

A realidade se transfigurava como nos quadros de Piccasso. Seu mundo se transformava naqueles pequenos cubos. Na geometria das cores que insistia existir no seu imaginário mundo colorido. Tentava pensar e repensar e se perguntava constantemente: onde tinha errado? Bem, errou muito ao longo da vida, fez escolhas equivocadas. Mas em nome de que mesmo? Agora precisava da solidão, do seu cantinho na parede, do seu encolhimento espiritual. Verdade. Até levantou do chão, mas a bola de ferro presa aos pés de sua alma não a permitia seguir em frente. Colocava as mãos na cabeça, tentava achar uma saída e em um ataque de nervos, desesperada iniciou uma auto-flagelação incompreensível. Parecia que estava tentando se punir de alguma coisa, que nem ela sabia ao certo do que se tratava.

Ela gritava de dor, mas inacreditavelmente ninguém conseguia ouvi-la... e eu mesma me perguntava: Mas como pode ser? Seus gritos são tão altos e fortes. Por que será que ninguém a ouve? Eu a ouvia. Mas não podia tocá-la com minhas palavras na minha filosofia barata e nem com o meu olhar piedoso de Madre Teresa. Queria apenas lhe dizer... "escuta, não interessa se pensa que está sozinha. Você tem a mim, aqui ao seu dispor e eu nunca irei lhe abandonar. Conte com meu ombro e a minha franqueza em lhe dizer que é tôla. Enxugue as lágrimas, erga-se, um mundo colorido lhe espera."

sábado, 17 de outubro de 2009

O sonho

Sonhei que escrevia... nesses escritos relatava momentos de um mundo brilhante, cheios de arco-íris de uma tipica pós-chuva, tenebrosa tempestade. Sonhei que tudo era tranquilidade, que as cartas estavam postas na mesa com tranquilidade e em defesa da verdade. Um sonho bom, onde meu amor sorria quase todo o tempo... ah se ele soubesse como fica lindo quando sorri... traduz toda a sua beleza e simplicidade.

Mas era somente o sonho... acordei como uma desesperada pensando, como sempre, nas contas que precisavam ser pagas, no trabalho que eu não poderia atrasar ou em uma receitinha nova para agradar aquele que dormia ao meu lado. Sem falar na academia - precisava ficar em forma, no inglês que precisa ser melhorado, nos filhos para o futuro... ops... falando nisso, esqueci de tomar a pílula. O fiz tão rápido que desceu rasgando, é não deu tempo de encher meio copo de água como recomenda a bula de todos os remédios em comprimidos... acontece, pena que é sempre.

Saí correndo, perdi o ônibus do horário e o estresse já apontava vitorioso quando pedi a Deus um pouco mais de calma. É, parece que ele me atendeu... esperei pacientemente por mais 15 minutos e quando vi que em vão, levantei o braço para o taxi que estava passando. Putz, pagar taxi... uma grana que não posso gastar... Tentei sorri, mas não deu... voltei a lembrar do sonho. Fechei os olhos por alguns segundos e satisfeita com o que o meu imaginário criava esbocei um meio sorriso.

Suspirei e transpirando cheguei ao trabalho, ofegante... então percebi que o que vale a pena são realmente os sonhos. É ele que nos faz acordar para nossa propria realidade. Pensei isso enquanto ligava meu laptop...

Voltei à realidade, mas antes pedi... Oh Deus, me dá sempre a capacidade de sonhar. Minha suplica ao divino traduzia apenas um medo de não estar em vida, mas sim, em sobrevida. Sorri e entrei na realidade em busca de meus sonhos... enquanto isso "eu finjo ter paciência"...

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

...Senta aqui...

"...quando você faz essas coisas, tenho a impressão de que você fez de propósito. Parece não saber o quanto isso me machuca". A afirmativa nos ultimos dias esteve sempre presente em sua cabeça. A vontade de falar nestes termos era sucumbida pela falta de tempo, de interesse e pela simples indiferença do seu parceiro. O resultado era uma mulher triste, com o sorriso amarelo tentando se proteger no que restava de seu amor próprio. A confusão finalmente instalara uma nuvem de inconformismo e total desespero em sua mente por concluir, embora tremula por dentro, que aquela relação estava se tornando uma farsa completa... sem uma essencia do existir e a falta de noção da gravidade do sofrimento mútuo.

Após vários deslizes do ser amado e vários perdões dissimulados, a mulher não permitia mais nenhum erro, nem por equivoco, nem por próposito. Isso estava fazendo da vida dos dois plena infelicidade. Mas o que doia, segundo a mulher, era que para ele, aquela é apenas uma pertubação de mulher complicada... se perguntava por que toda mulher era assim, complicada. Afinal de contas, para eles (homens de classe Z), simplificar significa submeter-se às suas atitudes desatenciosas e sem noção.

A mulher com os olhos mareados, se perguntava diariamente por que dessa vez não conseguia perdoar... na verdade ela sabe que nunca perdoou completamente e que sempre estava a espera do proximo deslize... como uma pantera na escuridão a espreita de seu alimento... vivia, dia após dia, a espera do próximo desespero... não acreditava mais que todo aquele amor supostamente declarado aos quatro cantos do mundo, não passava de palavras, cheias de conveniências e gratidão.

No rádio, as canções de um cantor galã, ecoavam na sua casa e na dos vizinhos tamanho era o volume... talvez na tentativa de romper o silêncio instalado entre os dois... no seu pensamento romantizado pelas letras do interprete pensava ainda romanticamente... ah... se ele entrasse e me dissesse isso talvez...


"Senta aqui!
Não tenha tanta pressa
Senta aqui!
Porque toda essa angústia?
Não fique aí tão quieta
Quebra o teu silêncio
Se abre comigo...
Ei! Senta aqui!

Não fique assim tão tensa
Senta aqui!
Eu sei que você pensa
Que ela me incomoda
Mas pode ter certeza
Que eu te quero...

Eu sei que não é tão fácil
Me amar assim
Com toda segurança
Num recomeço
Com o tempo você vai sentir
Que as suas dúvidas
Irão sumindo aos poucos
Será melhor prá nós
Será melhor prá nós...

Senta aqui!
Não jogue tudo fora
Senta aqui!
Confia em mim agora
Não fique aí pensando
Juntos acharemos um caminho...

Agora dá um sorriso
E vem prá cá
A gente já brigou demais
Por essas coisas
Vem me dá uma força
Porque eu te amo
Eu sei que não é tão simples
Só o tempo vai dizer
Só o tempo vai dizer...

Senta aqui!
Vem me dá um sorriso
Senta aqui!"

Mas na sua cabeça, talvez nem isso adiantaria mais... enquanto o seu coração estupido e ignorante esperava alguma coisa de maravilhoso.

*Ao livro "A insustentável leveza do ser"- Milan Kundera e a Fabio Jr.